terça-feira, 5 de abril de 2011

O PUXADOR DA PORTA DA COZINHA

Jorge Luis Barreto Guimarães



O puxador da porta da cozinha está estragado
faz um mês. Não passa dia sem que peças
que conserte o puxador
não concebes ser possível eu
sempre ter tido engenho para
estas coisas da casa e
ainda
não ter tido tempo para compor
o puxador. Mas
não se trata de nada disso. Eu
já o teria composto (se o
quisesse reparar)
teria arranjado tempo
não me ia custar mesmo nada. Mas
depois ia
haver que alfinete ? (encravado na rotina)
Como não estranhar a absurda
ausência da avaria ?
Deixa-o
ficar assim. Deixa-o andar assim
(ternamente avariado).
Cada dia pela manhã
quando passares à cozinha
(calculo que por
entre as sete
sete e um quarto sete e meia)
e ficares com o
puxador da porta da cozinha na mão
tua voz regressará ao
exaustivo pedido
(ao
alívio confortante dessa ser
nossa alegria) e
eu
sentir-me-ei feliz por
ainda te ter por perto
por me
fazeres companhia.

Jorge Luis Barreto Guimarães (Porto, 1967), é licenciado em Medidina e Cirurgia pela Universidade do Porto. Autor de vários livros desde 1989, entre eles, “Rua Trinta e Um de Fevereiro”, Limiar, Porto, 1991; “Este Lado Para Cima”, Limiar, Porto, 1994; “Lugares Comuns”, Mariposa Azual, Lisboa, 2000; “3 (Poesia 1987-1994)”, Gótica, Lisboa, 2001; “Rés-do-Chão”, Gótica, Lisboa, 2003; e “Assinar a Pele”, (antologia de poesia contemporânea sobre gatos), Assírio & Alvim, Lisboa, 2001.

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